quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Memória vs realidade: a gripe asiática de 1957

"No dia 9 de Agosto de 1957, o navio Moçambique, proveniente de África, entra na barra do Tejo para atracar no porto de Lisboa. Traz a bordo passageiros doentes. Naquele dia, a epidemia de gripe acabara de ser importada. Provocada por um novo vírus que anteriormente não tinha circulado em Portugal, encontrou a população de Lisboa e do País inteiramente desprotegida.

Investigações epidemiológicas, conduzidas pelos especialistas da Delegação de Saúde de Lisboa, identificaram os primeiros casos. Verificaram que uma criança de onze anos de idade, que se deslocara com a família ao cais para acolher o avô que viajara no Moçambique, adoecera a 11 de Agosto. Nos três
dias seguintes, todos os membros da família adoeceram igualmente. Por outro lado, mulher e filhos do médico assistente, que residia no mesmo prédio do bairro de Alvalade, também adquiriram gripe.

A partir do final de Setembro, a gripe assume expressão epidémica. Meses antes, em Fevereiro desse ano, no Norte da China, tinha tido início a pandemia de gripe “Asiática” no seguimento da emergência de novo subtipo A H2N2 que passou a infectar seres humanos. Compreende-se que, no plano psicossocial, a descrição dos fenómenos e as imagens da pandemia de 1917 tenham provocado grande preocupação.

Lisboa em plena epidemia de gripe “asiática” era, seguramente, uma cidade diferente, sobretudo na primeira e segunda semanas de Outubro. Absentismo nas empresas, fábricas paralisadas, transportes públicos com problemas de funcionamento, escolas fechadas, postos dos serviços médico-sociais da Federação das Caixas de Previdência com um aumento extraordinário de procura, hospitais sobrelotados, visitas suspensas à Maternidade Dr. Alfredo da Costa, e, logo depois, medida idêntica adoptada nos Hospitais Civis de Lisboa.

Em meados de Outubro, as notícias continuam a reforçar o “carácter benigno” da gripe em Portugal. Em contrapartida, era anunciada “a epidemia de gripe com muita gravidade em cidades como Paris, Londres, Zurique, Bruxelas, Viena de Áustria e na União Soviética”.

Os números oficiais e os estudos realizados contradizem essa benignidade.Mas o contexto social explica a forma como a gripe foi vivida no País."

Francisco George
Belmira Rodrigues
Mário Carreira

Para saber mais:

http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i010472.pdf

Memórias da avó S.

(Doente com gripe)

Eu já vivi pior do que isto... Acho que lhe chamavam a gripe asiática, foi no tempo em que o meu pai ainda era vivo. Não havia nem uma alma para fazer um caldo quente, que estava tudo doente. O meu pai bebia uma malga de vinho branco (ia-se busca-lo à sra. Adelaide que morava ali em cima), e para não ser tão frio punha-se uma maçã assada lá dentro, e açucar. Era vinho e abafo o remédio naquela altura.

(e o abafo era a caminha e descanso, entendes?)