Até há
bem pouco tempo eu era daquelas pessoas privilegiadas que, quase aos 30, têm a
sorte de partilhar o seu dia-a-dia com as avós. Mas, para mim, elas eram não só
aquela fonte de carinho e porto de abrigo que as avós costumam ser, mas também
uma espécie de passagem secreta onde podia penetrar sorrateiramente e viajar no
tempo até ao passado. E sempre dei comigo a pensar, D., devias anotar estas
histórias de antigamente, estas memórias são um tesouro, se não da Humanidade,
pelo menos da nossa família, e um dia também tu te vais esquecer delas… Infelizmente,
foi um pensamento que ficou guardado no fundo do baú, preterido por outros mais
urgentes e mais mundanos, e os anos passaram sem que o pusesse em prática.
Mas
2011 foi um ano de grandes perdas… Perdemos irremediavelmente uma das nossas fontes…
E a outra? Bem, as memórias da avó S. estão em contagem decrescente para a
extinção. É agora ou nunca a altura de as preservar para a posteridade, por
isso parto para 2012 determinada a guardar todas essas palavras que contêm a
vida de antigamente. Antes que as leve o vento. Ou o Alzheimer. Antes que
anoiteça…